Marte pode parecer árido e inóspito hoje, mas há muito tempo o Planeta Vermelho parecia bem diferente. No passado, Marte era mais quente do que agora e coberto de rios, lagos e mares. Não há como dizer se os marcianos existiram. Ainda assim, há evidências crescentes de que Marte não era apenas habitável em teoria, mas na verdade o lar de algum tipo de vida extraterrestre. É até possível que resquícios dessa vida ainda estejam escondidos sob a superfície de Marte. Portanto, aqui estão seis razões pelas quais os astrobiólogos acreditam na possibilidade de vida em Marte.
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Vales e deltas de rios: a incrível geografia de Marte
A paisagem marciana envergonha a Terra. Seu pico mais alto, Olympus Mons, eleva-se a 85.000 pés (26.000 metros) acima da planície que o cerca, de acordo com a Agência Espacial Europeia. É três vezes mais alto que o Monte Everest.
Além disso, grandes leitos de rio serpenteiam pela paisagem marciana e se espalham em deltas. Algumas dessas formações geológicas podem ser explicadas pela atividade vulcânica antiga ou pelos ventos violentos de Marte. Mas outros são claramente relíquias de antigos corpos d’água. Por exemplo, leitos de rios aparentes em Marte tendem a terminar em grandes crateras, cujos fundos parecem achatados. Isso é um sinal de que rios antigos estavam depositando sedimentos ali – e que a paisagem marciana já foi dominada por rios, lagos e mares.
Mas o consenso moderno de que o antigo Marte estava molhado levanta uma questão importante: o que aconteceu com toda aquela água?
Vestígios de água
Se você derramar uma garrafa de água na superfície de Marte, a água ferverá antes de atingir a superfície do planeta. Não é porque o Planeta Vermelho é quente – as temperaturas noturnas às vezes chegam a 225 graus Fahrenheit negativos (142 graus Celsius negativos). A água ferve porque a atmosfera marciana é bem fina. A pressão do ar é tão baixa que não há nada para segurar as moléculas de água no lugar, mesmo em temperaturas de congelamento. Hoje, a água existe em Marte em apenas uma forma: gelo, escondido sob a superfície nos dois polos do planeta.
Mas Marte claramente nem sempre foi tão inóspito para a vida. Rovers em Marte, incluindo o Curiosity, encontraram evidências químicas de água líquida: grandes depósitos de moléculas de argila, de acordo com a NASA. As moléculas de argila geralmente são formadas apenas quando a água está presente – para os cientistas, é um claro indicador de que Marte estava provavelmente muito mais quente, com uma atmosfera espessa o suficiente para manter o líquido.
A água pode ser um requisito para a vida na Terra, mas não é uma garantia de que existiu vida em Marte, disse Penelope Boston, astrobióloga da NASA, ao site Live Science. Dito isso, esta evidência nos leva um passo em direção à conclusão de que a vida já foi possível no Planeta Vermelho.
“Não há uma única bala de prata nessa questão de detecção de vida”, disse Boston. “Os dados são cumulativos.”
Portanto, a água é apenas um dado entre muitos que apontam para a conclusão de que poderia ter existido vida em Marte – e talvez ainda exista.
Produtos químicos orgânicos
Na Terra, o carbono e o hidrogênio estão por toda parte. Na verdade, 75% do seu corpo (excluindo a água) é composto por esses dois elementos. Dessa forma, eles constituem tudo, desde o nosso DNA até as paredes celulares. Chamamos esses produtos químicos de “orgânicos” – e a vida como a conhecemos na Terra não existiria sem eles.
Então, em 1984, quando os cientistas encontraram um meteorito marciano na Antártica rastejando com produtos químicos orgânicos, sua descoberta levantou uma questão interessante: os produtos químicos orgânicos vieram da vida?
No início, os cientistas especularam que esses produtos químicos poderiam ter sido introduzidos no meteorito após o impacto. No entanto, as assinaturas químicas do material orgânico não estavam na superfície da rocha. Em vez disso, os compostos orgânicos ficaram cada vez mais densos em direção ao centro do meteorito.
Ainda assim, os cientistas estavam céticos quanto à possibilidade de encontrarem produtos químicos orgânicos em Marte. A superfície do planeta sem atmosfera é muito dura até mesmo para sustentar estruturas químicas orgânicas. No entanto, mais recentemente, robôs de Marte como o Curiosity descobriram traços claros de compostos orgânicos na superfície do planeta. Em 2012, a Curiosity encontrou produtos químicos semelhantes ao querogênio, um componente do combustível fóssil.
A vida é uma fonte importante de compostos orgânicos – mas não a única. Os processos geológicos também podem resultar na criação de compostos orgânicos, disse Boston. Por exemplo, vulcões às vezes expelem compostos orgânicos na atmosfera. Portanto, embora seja possível que os produtos químicos sejam um sinal de uma vida passada, ainda não é algo certo.
Medição recorde de um gás natural
No início de 2019, o Curiosity descobriu outro sinal potencial de vida em Marte – uma medição recorde de um gás natural chamado metano. Na Terra, o metano vem principalmente de micróbios. Portanto, embora a leitura marciana de 21 partes por bilhão (ppb) tenha sido relativamente baixa (para perspectiva, as concentrações na Terra estão perto de 1.860 ppb), a pluma ainda é um sinal promissor de que existiu vida – ou ainda existe vida invisível – no Planeta Vermelho. E esta não foi a primeira vez que Curiosity detectou metano em Marte. Em média, as concentrações de metano oscilam em torno de 7 partes por bilhão (ppb) e variam sazonalmente – aumentando no verão e diminuindo no inverno. Este padrão sazonal é outra pista para a origem do metano.
Abaixo da superfície marciana existe uma camada de gelo. Talvez no verão, esse gelo derreta, liberando bolsões de metano aprisionado. Embora as reações entre rochas e gelo possam criar metano, de acordo com a NASA, é possível que essas bolhas de metano venham de vida subterrânea – antiga ou existente.
Aumento da temperatura
Para que existisse vida na superfície de Marte, o Planeta Vermelho precisaria ser muito mais quente do que está agora. Hoje, a temperatura média da superfície gira em torno de menos 81 F (menos 62 C). Isso é 138 F (77 C) mais frio do que a temperatura média da Terra, segundo relatórios da National Geographic. Mas as baixas temperaturas de Marte não excluem a possibilidade de vida. Os cientistas têm evidências de que há centenas de milhares de anos Marte era muito mais quente.
Assim como a Terra passa por eras glaciais e períodos de aquecimento, o clima em Marte muda com o tempo. E, assim como a Terra, as oscilações climáticas do Planeta Vermelho acontecem por causa das mudanças em sua órbita do sol. A escala de tempo dos ciclos climáticos marcianos é até semelhante à da Terra – ambos levam cerca de 100.000 anos para oscilar entre um período frio e um período de aquecimento.
Mas as oscilações climáticas em Marte são provavelmente muito mais extremas do que as da Terra, disse Boston da NASA. Isso ocorre parcialmente porque Marte oscila muito mais em seu eixo do que a Terra. O eixo da Terra se move apenas entre 22 e 24,5 graus de inclinação, de acordo com a NASA. Nos últimos 3 milhões de anos, o eixo de Marte se moveu entre um ângulo de 15 e 30 graus. Mais de 3 milhões de anos atrás, e seu eixo poderia ter inclinado mais de 45 graus.
O clima de Marte está atualmente no estágio mais frio de uma dessas oscilações, disse Boston.
“A habitabilidade geral provavelmente começou bem alta”, acrescentou ela.
Um mundo subterrâneo desconhecido
Os astrobiólogos estão apenas raspando a superfície da detecção de vida em Marte. Literalmente. Embora não haja sinais de vida atual na superfície marciana, tudo indica que exista vida onde não podemos vê-la – no subsolo.
Boston pensa que Marte, como a Terra, emana calor de seu núcleo. Abaixo da superfície poderia existir um mundo temperado invisível, quente o suficiente para água líquida – e vida microbiana.
Mas a busca por essa vida exigirá muito mais recursos, disse Boston. Ela está esperançosa, no entanto, de que com uma viagem a Marte, os humanos irão entender melhor o Planeta Vermelho e seu potencial para hospedar vida. E isso inclui o passado e o presente.
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