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No mês passado, Satya Nadella mandou o recado: A Microsoft possui experiência interna em silício e disse:

“Neste ponto, está claro como o dia, se você está fazendo coisas na borda ou fazendo coisas na nuvem, você precisa ter capacidade de silício”, afirmou Satya Nadella.

Muito bem, ano passado, em maio, durante a Build 2017, Satya Nadella disse:

“Por exemplo, quando todos estão falando sobre a nuvem, a parte mais interessante é a borda da nuvem. Seja na IoT, seja na indústria automobilística, seja no que está acontecendo no varejo, essencialmente, computar é onde os dados são gerados, e cada vez mais os dados são gerados nos volumes em que estão sendo computados, que é a Edge.”

À medida que a Internet das Coisas avança, e os dispositivos móveis continuam se tornando mais poderosos, está fazendo cada vez mais sentido mover o processamento para esses dispositivos.

A computação de borda, ou o que a Microsoft chama de “Intelligent Edge”, é o resultado de um fluxo e refluxo em tendências de computação. Antes da internet, o seu computador processava tudo localmente. À medida que os smartphones se tornaram o motor da tecnologia, trouxeram outros problemas. Eles possuíam processadores móveis relativamente fracos e as preocupações com o consumo de energia – juntamente com o crescimento dos serviços em nuvem – foi necessário transferir a grande parte desse processamento para os datacenters, ou “a nuvem”, essa era a escolha certa.

Agora, o pêndulo está voltando para o outro lado. À medida que conectamos tudo à Internet (geralmente sob condições menos que ideais; hey Brasil, e sua infraestrutura de internet, estou olhando para vocês!), e os processadores móveis começam a se aproximar dos seus equivalentes nos PCs, as preocupações de desempenho começam a sugerir um movimento a favor do poder de processamento mobile mais próximo do usuário final. A velocidade da luz ainda dita uma grande quantidade do que acontece no mundo da tecnologia, e qualquer aplicativo ou serviço que prometa informações em tempo real não pode esperar por nenhum 1 segundo.

A ideia aqui é simples: em um processo comum, pode levar dois segundos para uma máquina ou um sensor detectar um problema, informar a lógica hospedada na nuvem que determina se a máquina precisa ou não ser desligada e transmitir a decisão de volta à mesma máquina. Pegue por exemplo, na IoT (Internet das Coisas), existem algumas dessas máquinas que são complicadas ou perigosas, esse atraso pode causar uma falha catastrófica, como por exemplo, um sensor falhar e ferir um funcionário ou um carro autônomo do Uber matar uma pessoa, como de fato aconteceu (com a ajuda da Uber, que retirou a quantidade necessária de sensores para economizar, mas, fica para outro post).

Nadella encerrou:

“Estamos chegando ao ponto em que você não pode treinar e executar todos os dados na nuvem. É muito provável que alguns clientes do Azure já tenham atingido esse ponto…”

Windows 10 ARM rodando em um Qualcomm Snapdragon 835 em um protótipo de smartphone da Qualcomm

Existem muitas coisas acontecendo dentro da Microsoft, é claro, ela é um gigante do setor, então, não temos uma visão geral, mas, o que sabíamos até então, além do foco de Satya Nadella em Intelligent Cloud e Intelligent Edge?

Mas, durante a Inspire 2017, veio uma grande novidade:

A Microsoft revelou ao mundo, o Microsoft 365.

O novo produto da Microsoft combina o Windows,o Office e Inteligência Artificial com segurança e software de gerenciamento de dispositivos móveis em um modelo de assinatura.

O movimento reflete o esforço de Satya Nadella em unificar as divisões díspares dentro da Microsoft, para trabalhar mais estreitamente e juntas. Essa abordagem, apelidada de “One Microsoft”, visa acabar com as batalhas internas, que às vezes, retardou o crescimento da gigante de Redmond, com departamentos competindo entre si em várias áreas da empresa, fruto da gestão Ballmer.

Enquanto tudo isso e muitas outras coisas aconteciam dentro da Microsoft, existe algo que não era discutido pela empresa ou seus funcionários externamente, mas, que causava um enorme incômodo:

A transformação digital da Microsoft

A Microsoft, que já dominou a indústria de computação pessoal, está agora tentando encontrar seu caminho em um mundo mais heterogêneo, focado em nuvem e mobilidade.

A derrota épica da Microsoft em dispositivos móveis é conhecida por todos e não precisa ser repetida aqui. Da mesma forma, o futuro da gigante do software na nuvem é muito sólido e compreendido. Basta observar que todos os movimentos da Microsoft nos últimos anos podem ser vistos através dessas duas iniciativas, um sucesso (a nuvem) e uma falha (o mercado mobile).

Eis que chegamos ao fatídico dia 29 de março de 2018. Uma grande reorganização foi divulgada pela Microsoft sob a batuta de Satya Nadella, dispensando o veterano e defensor do Windows, Terry Myerson, deixando o Windows sem uma cadeira no alto escalão da empresa, focando seus esforços no Azure e Inteligência Artificial e promovendo Scott Guthrie, o chefão do Azure, com poderes totais sobre o Windows. Uma mudança de paradigma engraçada até, já que o Azure saiu de dentro do Windows Server.

O golpe duro sofrido pelo time do Windows iria piorar ainda mais, porém, nós só ficamos sabendo agora: Azure Sphere.

Azure Sphere, para quem não sabe, é derivado de um projeto fundado pela Microsoft em 31 de março de 2017, e chamava-se, Projeto Sopris.

Já falamos bastante sobre o Microsoft Azure Sphere, clique nos links abaixo se quiser mais detalhes:

É claro que não acreditamos que a única razão pela qual a Microsoft lançou o Azure Sphere foi a segurança para dispositivos IoT. Segurança é fundamental, não há dúvidas, muitos dispositivos IoT foram comprometidos, desde brinquedos, babás eletrônicas, câmeras, etc… então, sabemos a importância de um ecossistema robusto e confiável cuidando desses bilhões de dispositivos, além do volume de receitas que a nuvem irá garantir para a Microsoft com essa investida. Mas, isso é apenas a ponta do iceberg. Segurança é apenas uma parte do Azure Sphere.

Desde a reorganização da Microsoft promovida por Nadella no dia 29 de março, não há dúvidas que o rebaixamento do Windows teria uma contrapartida.

Então, o que é o Azure Sphere? Antes de responder é preciso fazer outra pergunta: Qual a próxima onda?

A “próxima onda” pode ser chamada de computação de ambiente.

Hoje, a computação de ambiente está focada principalmente em assistentes pessoais digitais em telefones e em alto-falantes inteligentes, como a Cortana e o Invoke, a Alexa da Amazon e o Google Home, por exemplo. Mas, esses são mercados limitados e transitórios. Segundo a Microsoft e no post de Brad Smith, a indústria já envia mais de 9 bilhões de dispositivos IoT todos os anos. Isso se compara a cerca de 1,5 bilhão de smartphones e cerca de 250 milhões de PCs. Esse é  o potencial aqui. Algo que transcende até o mercado de smartphones.

Mas, o Azure Sphere não é grande apenas porque a Microsoft pretende desempenhar um papel de destaque na computação de ambiente. Claro que sim. É um grande negócio porque a Microsoft, muito explicitamente, pretende desempenhar um papel importante em todos os níveis imagináveis. Não é apenas o fornecimento de serviços em nuvem baseados em inteligência artificial e uma plataforma de software para Internet das Coisas (IoT). A Microsoft está fazendo tudo .

Simplificando, esta é uma declaração pública da Microsoft de que ela não perderá a próxima onda, ou como disse bem Satya Nadella, não vamos perder o próximo “boom”.

O nome Azure Sphere é interessante em dois níveis. Mais obviamente, ele vincula a plataforma à família de serviços em nuvem do Azure da Microsoft. Menos obviamente, ele joga a marca do Windows para o escanteio. Este é o primeiro sistema operacional voltado ao público da Microsoft a não ter o nome Windows. Talvez o OS / 2, quem sabe, por volta dos anos 90.

De qualquer forma, o nome Azure Sphere identifica muito corretamente o que o restante da plataforma utilizará se não depender totalmente dos serviços do Azure hospedados em nuvem. Acho interessante que muito pouco foi realmente dito sobre os serviços de nível superior do Azure que podem ser mais usados nesse mercado. Talvez não haja nada de novo para dizer, ou talvez a Microsoft esteja esperando para revelar mais informações durante a Build 2018.

Além disso, o novo Serviço de Segurança do Azure Sphere administrará com segurança as comunicações entre a nuvem e os dispositivos compatíveis de IoT e de um dispositivo IoT para o outro. Esta parte explica a “segurança” e porque o anúncio foi feito na RSA. A Microsoft possui um diferencial absoluto. A teoria aqui é que as empresas precisam de um parceiro confiável para avançar com sua transformação digital. A Microsoft é obviamente, esse parceiro confiável para as empresas. O Azure Sphere mostra que deseja trazer essa reputação e capacidade para a IoT também.

A Microsoft também está fornecendo dois componentes de plataforma para o cliente. A mais tradicional dos dois, o Azure Sphere OS, um sistema operacional da Microsoft. Mas, não é baseado no Windows. Em vez disso, o Azure Sphere OS é baseado no Linux. Segundo o próprio Brad Smith, é a primeira vez em 43 anos de história que a Microsoft irá distribuir um kernel Linux personalizado.

Transições como essa são interessantes, certo? Quando a Microsoft decidiu eliminar a marca NT com o Windows 2000 – um produto que era originalmente chamado de Windows NT 5.0 – ela forneceu ao produto um slogan redundante “Construído com tecnologia Windows NT” (Neste post, meses atrás, já havíamos levantado a possibilidade da Microsoft revelar a sua versão Linux).

Isso foi há 20 anos. Hoje, a Microsoft também está fazendo a transição do antigo para o novo, nesse caso, alegando que o Azure Sphere OS “combina inovações de segurança pioneiras no Windows” com seu novo kernel Linux personalizado e um “monitor de segurança”. O resultado? “Um ambiente de software altamente seguro e uma plataforma confiável para novas experiências de IoT.”

O Windows diminuiu, de fato.

O segundo componente do cliente é tão inesperado quanto o primeiro: a Microsoft não está apenas criando um novo Sistema Operacional para IoT. Ela está projetando e criando uma nova plataforma de hardware também.

Atenção: hardware.

Todos os principais fabricantes de plataformas de software estão expandindo seu alcance para incluir componentes de hardware. No caso da Microsoft, o exemplo mais visível, até agora, foi o chip do Acelerador Pixelsense em seus PCs Surface. Mas, o gigante do software também elogiou seu trabalho de componentes personalizados em datacenters do Azure (FPGA) e em seus consoles do Xbox também.

Brad Smith mostrando o tamanho do chip MCU ou microcontrolador Azure Sphere

Para o Azure Sphere, a Microsoft criou um novo MCU (microcontrolador), um pequeno system-on-chip (SoC) que fornece vários núcleos de processador Arm (de desempenho e eficiência), SRAM, armazenamento flash, um subsistema de segurança, multiplexado I/O e rede Wi-Fi em uma bolacha que é menor e mais fina que uma unha. O silício supostamente usa tecnologia que a Microsoft desenvolveu pela primeira vez para o Xbox, embora os detalhes sobre essa relação sejam escassos.

O que esse novo MCU permite é “a Intelligent Edge” no menor tamanho possível. Como você já sabe, o mantra “Intelligent Cloud e Intelligent Edge” da Microsoft não é apenas marketing: a próxima onda exigirá inteligência artificial na nuvem e na borda (o cliente). Esses MCUs (microcontroladores) “permitem inteligência no ambiente” em um MCU pela primeira vez, diz a Microsoft. A Microsoft está fazendo seu próprio software e hardware de ponta inteligente. É uma plataforma completa.

Brad Smith disse o seguinte na apresentação:

“O que estamos anunciando hoje é o Azure Sphere. É uma solução de ponta a ponta para IoT. Vai aonde … nenhuma empresa foi antes”, disse Smith.

Então, aqui está a dura realidade. A Microsoft rebaixou o Windows. Ela está abraçando o Linux em todos os sentidos imagináveis nos últimos anos. E ainda. Foi chocante ver a gigante do software anunciar seu próprio Linux desse jeito.

Mas, essa decisão foi pragmática, uma marca de Satya Nadella. A Microsoft gastou literalmente décadas compondo o Windows e tentando criar várias versões incorporadas do sistema operacional ao longo dos anos. E é fácil imaginar o que a inclusão do Azure Sphere OS significará para o Windows 10 IoT.

Mas, o mercado – e a realidade básica – falaram. O Linux, por qualquer motivo, é menor, mais leve e melhor adaptado para esse uso. Então, a Microsoft está adotando o Linux, onde faz sentido tê-lo. É a ferramenta certa para o trabalho certo.

Mas, o Azure Sphere demonstra que a Microsoft leva a sério o seu papel principal no futuro.

A nuvem inteligente e você

A nuvem inteligente da Microsoft pode ser vista como um ecossistema de conexão de “super-sistemas”, aplicativos e experiências do usuário. Esta abordagem da Microsoft é semelhante à sua estratégia anterior do Windows, porém, em uma escala muito maior e adaptada a um mundo interconectado de vários dispositivos e plataformas.

O Windows já foi o sistema operacional e a plataforma de computação pessoal para usuários e desenvolvedores. Como o objetivo do Microsoft Windows era fornecer um sistema operacional no qual a computação e o desenvolvimento mais pessoais acontecessem, e essa estratégia deu certo por muitos anos, a Microsoft pretende fazer com o Azure Sphere a mesma coisa.

Infelizmente, a concorrência tornou o Windows apenas mais uma escolha de plataforma do que o padrão dominante. Assim, a nuvem da Microsoft está sendo posicionada, por meio de várias soluções, para ser o pano de fundo no qual as experiências digitais dos usuários do Windows, iOS e Android, em diferentes graus, são gerenciadas ou executadas.

Os laços que unem

  • O Microsoft 365 é uma solução completa, inteligente e segura que empodera os funcionários através do local de trabalho moderno, aplicações empresariais, Apps & Infraestrutura e dados & IA
  • O Office 365 é uma coleção baseada em nuvem de ferramentas de produtividade de plataforma cruzada com uma única autenticação que elimina a barreira entre o trabalho e a produtividade pessoal.
  • O Microsoft Graph une as experiências entre plataformas dos usuários e as ferramentas do Office 365 para fornecer continuidade em todos os dispositivos.
  • O Projeto Roma oferece suporte multiplataforma baseado em nuvem para a manutenção de experiências de aplicativos em vários dispositivos, como o recurso Timeline e a continuação de músicas de um telefone Android no Xbox, entre outros exemplos.
  • A plataforma de nuvem Azure da Microsoft pode executar o back-end de aplicativos iOS, Windows e Android.
  • A Cortana, uma assistente digital multiplataforma baseada em nuvem, conhece usuários em vários dispositivos e cenários corporativos e pessoais.
  • E por fim, a plataforma Microsoft Azure Sphere, que contém um sistema operacional baseado no Linux que poderá ser “o sistema universal”, a esfera que abraça e interliga toda a estratégia da Microsoft. Com um OS Microsoft Linux, praticamente qualquer serviço ou aplicação poderá rodar no Azure Sphere OS. Com a plataforma Azure a Microsoft quer reescrever a história, voltar a ser a plataforma para tudo e para todos.

Esses esforços baseados na nuvem que gerenciam as experiências do usuário são muitas vezes invisíveis para os consumidores, que só pensam nos dispositivos, afinal de contas, quem não quer um Surface Mobile/Phone nas mãos agora? Os investimentos em computação de borda da Microsoft (e a equipe de Experiências e Dispositivos) vão revelar ainda mais o poder da computação em nuvem em dispositivos, desde a Internet das Coisas (IoT) até onde a imaginação de Panos Panay nos levar.

E o que acontecerá com o Windows? Bem, isso é assunto para outro post.

Fique ligado!

Fonte: Thurrot / Windows Central