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Meses atrás, todos ficaram preocupados com o vazamento de dados de usuários do Facebook no escândalo com a Cambridge Analytica, o que, segundo comissões diversas, tais dados podem ter influenciado nas mais recente eleições americanas, mas, tudo isso é fichinha diante das informações retiradas de um vídeo interno da Google obtido pelo pessoal do The Verge. O vídeo fala sobre coisas perturbadoras que podem mudar o rumo da humanidade…

Infelizmente o vídeo completo está disponível apenas em inglês com legendas também em inglês, mas é possível absorver muita coisa que é dita tendo um conhecimento intermediário da língua, mas, não se preocupe, vamos fazer um resumo das ideias exploradas no vídeo logo depois de você assisti-lo.

Esse vídeo é de 2016 e foi divulgado apenas internamente na empresa. Não era para ser visto por todos. Depois que vazou a empresa justificou tudo o que foi abordado nele afirmando como sendo algo “conceitual” e que nada dito nele remete a um produto existente, ou mesmo a um futuro produto. Será mesmo?

Bem, ele foi elaborado por Nick Foster, chefe de design da X ( ex-Google X ) e co-fundador do Near Future Laboratory. Ele aborda teorias do uso dos dados do usuários em diversos cenários. Ele imaginou um futuro de coleta total de dados, em que o Google ajudaria a alinhar os usuários com seus objetivos, personalizar dispositivos para coletar mais dados e até orientar o comportamento de populações inteiras para resolver problemas globais como pobreza e doença. Depois do vídeo vazar, um porta-voz da X forneceu a seguinte declaração para o pessoal do The Verge:

“Nós entendemos que isso é perturbador – foi projetado para ser. Este é um experimento mental da equipe de Design de anos atrás que usa uma técnica conhecida como ‘design especulativo’ para explorar idéias e conceitos desconfortáveis ??para provocar discussão e debate. Não está relacionado a nenhum produto atual ou futuro.”

Entendendo o vídeo interno da Google

Todo o conceito gira em torno de um comparativo com uma história da epigenética Lamarckiana, que estão amplamente preocupados com a transmissão de traços adquiridos durante a vida de um organismo. Narrando o vídeo, Foster reconhece que a teoria pode ter sido desacreditada quando se trata de genética, mas diz que fornece uma metáfora útil para os dados do usuário. (O título do vídeo é uma homenagem ao livro The Selfish Gene, de Richard Dawkins).

O modo como usamos nossos telefones cria “uma representação em constante evolução de quem somos”, que Foster chama de “ledger”. Postulando que esses perfis de dados poderiam ser construído, usado para modificar comportamentos e transferido de um usuário para outro:

“Princípios de design centrados no usuário dominam o mundo da computação há muitas décadas, mas e se olharmos as coisas de forma um pouco diferente? E se o livro contasse com uma vontade ou propósito, em vez de simplesmente agir como referência histórica? E se nos concentrássemos em criar um livro mais rico introduzindo mais fontes de informação? E se pensarmos em nós mesmos não como os donos dessa informação, mas como guardiões, transportadores temporários ou cuidadores?”

Podemos entender o ledger como sendo um tipo de livro sobre cada indivíduo, e as informações contidas nele como sendo um tipo de “gene digital”, com informações diversas que definem cada indivíduo de forma única. Daí vem a comparação de Foster com a história da epigenética Lamarckiana.

A proposta conceitual abordada no vídeo e exposta por Foster é fazer com que o chamado registro do uso de nosso dispositivo – os dados sobre nossas “ações, decisões, preferências, movimentos e relacionamentos” – seja algo que poderia ser transmitido a outros usuários, assim como a informação genética é transmitida através das gerações. Isto é, o seu ledger, seu gene digital, poderia ser transmitido para outros indivíduos ou usado para outros fins. Sua vida inteira, preferências, gostos, costumes, ações, históricos, movimentação, enfim, tudo isso seria armazenamento, processado e reutilizado para fins diversos.

Alinhando a ideia do livro com os conceitos de ledger, a Google apresentaria um tipo de “Sistema de Resoluções de Problemas Conceituais”, no qual a Google solicita que os usuários selecionem uma meta de vida e, em seguida, os orienta em todas as interações por meio do seu smartphone. Para oferecer tais respostas e ajuda-lo na suas metas de vida, o sistema pediria sua autorização para usar seu ledger, seu bando de dados, para começar a oferecer propostas diversas em torno da sua solicitação. Nesse ponto possivelmente seria possível usar dados do ledger de um outro indivíduo, quem sabe alguém de sucesso em quem você quer se inspirar e que deu permissão para usarem seus dados. Mas, tem certeza que eles usariam tudo isso apenas para lhe ajudar a tomar decisões diversas? E será que realmente pediriam a permissão de alguém? Também é certo que nada nesse meio seria manipulado?

Os dados do ledger também poderiam ser usados para fins comerciais, como poder exemplo, digamos que você procurava por uma balança digital, como foi exibido no vídeo, mas não gostou de nada que pesquisou. Uma AI poderia criar um produto novo baseado nas usas preferências e posteriormente esse produto poderia ser produzido e enfim lhe oferecido como alternativa viável para compra. Quem sabe novos produtos poderiam surgir com base em uma análise mais ampla por uma AI com acesso a várias ledger semelhantes.

Mas, onde está o problema dessa coleta de dados da Google?

Agora, imagine isso sendo explorado nas mais diversas áreas da sua vida, prático, não? Sim, bastante, mas até que ponto você quer que as empresas saibam de todas as suas preferências? De tudo o que você quer consumir? Por onde você anda, o que você come, bebe, rejeita, ignora, critica. De quem você gosta, ou não gosta…

Você quer mesmo usar um aplicativo para tomar decisões de que profissão seguir, de qual plano de saúde escolher, quem sabe até o tipo de homem ou mulher com que você deve se relacionar, onde e o que deve comprar? Porque o conceito fala sobre isso, sobre usar o seu e o meu histórico de vida para propor tendências, para criar produtos e até indicar atitudes que precisam ser tomadas para isso ou aquilo. Você consegue imaginar o nível de privacidade dentro de um mundo assim?

Ah, mas a Google não venderia esses dados para outras empresas… claro que venderia… sabe porque? Porque ela já faz isso hoje.

Isso já está acontecendo…

Resultado de imagem para O que a Google sabe sobre mim?

Você já pesquisou uma bolsa nas americanas.com e depois entrou no Windows Team e viu um anúncio (adsense) de bolsas semelhantes ou algo do tipo? Claro que sim, porque a Google já armazena seus dados e usa AI e Aprendizagem de Máquina (machine learning) para prever coisas desses tipo. Os anúncio direcionados são baseados no seu histórico no Chrome, no Android e em tudo onde sua conta Google esteja conectada, mesmo que esteja usando outro navegador web.

O Google Fotos já cria álbuns automáticos sobre seu final de semana, sobre momentos diversos com seus principais amigos; o Google Maps já oferece destinos baseados na sua movimentação cotidiana e assim por diante. Enfim, seu ledger já está escrito há anos. Eles usam sua conta para coletar:

  • Atividade na Web e de apps (pesquisa, fotos, vídeos, etc)
  • Histórico de localização
  • Informações do dispositivo
  • Atividade de voz e áudio
  • Histórico de pesquisa do
  • Histórico de exibição do YouTube
  • Histórico no Google Chrome
  • Ações diversas no Chrome OS
  • Sem falar em análises de aplicativos agregados e hábitos diversos

Ainda bem que a sociedade já está de olho nisso. Muito recentemente, mais precisamente durante a Google I / O 2018, conferência para desenvolvedores Google, eles mostraram o Google Assistant marcando uma visita a uma cabeleireira se passando por um humano. Foi incrível, de fato, mas, onde fica a ética nisso tudo?