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A Apple não para: mais uma vez veremos uma migração de arquitetura dos Macs, agora com os chips conhecidos como Apple Silicon, desenvolvidos pela Maçã de Cupertino.

Ah, o tempo… nada como o ele para trazer mudanças e coisas novas. Agora, três semanas passadas da abertura da WWDC20, evento de desenvolvedores da Apple, muito já foi especulado sobre Macs com chips Apple.

Não bastava ela pular do Motorola 68K para o PowerPC e deste para Intel, agora vemos Tim Cook e companhia comandarem a migração da Intel para processadores ARM.

Benchmarks já foram vazados, rumores já foram divulgados, opiniões foram emitidas e esse texto não será diferente. Então porque você vai ler esse texto? Simples: vamos divagar sobre as vantagens e desvantagens de Macs equipados com Apple Silicon.

Porém, antes de falar sobre isso, temos que explicar alguns conceitos.

Afinal, o que é esse chip “Apple Silicon”?

Estruturas do Apple Silicon
Estruturas presentes em um Apple Silicon / Fonte: Apple

Para começar, nem sabemos se esse será o nome dos processadores ARM desenvolvidos pela Apple para equipar os Macs. O mais provável é que eles recebam uma letra e um número, seguindo a tendência atual.

Mas, a grosso modo, esses componentes são uma dispensa desonrosa para a Intel.

Porque migrar de arquitetura?

Porque a Apple quer controlar todas as camadas dos seus produtos. Steve Jobs adorava citar o Alan Kay: “Todos aqueles que realmente se importam com software deveriam criar o próprio hardware”.

A Apple só está levando ao pé da letra em 2020 uma citação da década de 80.

Como fica a Intel nisso tudo?

Intel sai dos Macs com o Apple Silicon
Suderj informa: Sai Intel, entra Apple / Fonte: Intel

Não fica.

A Intel não conseguiu entregar os modems 4G e 5G que a Apple precisava para brigar com a Qualcomm, o que obrigou a Maçã a fazer negócios com uma rival para fornecer tecnologia de comunicação de ponta nos iPhones e iPads.

Além disso, vendeu a divisão de modems para a Apple desenvolver, no médio prazo, esses componentes para os iTrecos dela.

No que tange aos processadores principais, a Intel vem falhando (há anos) na tarefa de entregar chips mais potentes, com menor consumo de energia e menor temperatura de operação. Basta olhar para o crescimento da AMD nesse segmento nos últimos anos.

O Apple Silicon foca exatamente nisso: eficiência energética com alta performance.

Não faz muito tempo, os notebooks da Apple não tinham memória DDR4 porque os processadores da Intel não suportavam esse tipo de memória com baixo consumo de energia,

Então queridos defensores da Intel: sim, a Apple abandonou esse fornecedor porque ele não era mais tão bom quanto a comparação de 2005 com os PowerPC.

Não que a Intel vá falir, muito longe disso. Nem de perto a Apple é o maior cliente da Integrated Electronics, mas é o tipo do cliente que todo mundo quer ter: É uma empresa referência que pode alavancar vendas só por usar produtos seus.

E a AMD?

AMD pode sair dos Macs com Apple Silicon
Entrou de gaiato no navio? / Fonte: AMD

A Apple tem uma parceria de longa data com a AMD no fornecimento de GPUs. Apesar de todo mundo lembrar que o Apple Silicon vem para substituir os processadores da Intel, eles também tem GPU integrada.

Pelo que vimos nas demonstrações da WWDC onde o chip da Apple rodou o “Shadow of Tomb Raider” com performance muito boa e, vale lembrar, sob o tradutor Rosetta 2, ou seja, emulado, parece que a Apple também acertou com suas GPUs.

Isso pode significar o fim da parceria com a AMD também. Numa única tacada a Apple poderia deixar de depender de dois fornecedores terceiros diferentes.

Eu ainda acredito que haverá uma parceria de fornecimento de GPUs para computadores Hi-End, mas se a performance dos chips da Apple for melhor que a já apresentada, eu não duvidaria do fim das Radeon e Vega nos Macs.

Quais as vantagens do tal Apple Silicon?

São muitas. Com os processadores ARM desenvolvidos pela Apple os Macs podem evoluir sem depender de fornecedores. Além disso, é muito mais fácil criar novidades exclusivas de hardware para implementar.

A primeira coisa que pode acontecer com o Apple Silicon é o fim da diferenciação entre os chips desenvolvidos para notebooks e para desktops. Todos os chips poderão ser produzidos da mesma forma e implementados nos diversos form factors.

Não entendam errado: obviamente teremos chips mais poderosos que consomem mais energia e chips mais modestos, focados no baixo consumo, mas nada impediria termos um MacBook Pro com processador potente. Hoje estamos limitados pela dissipação térmica e pelo consumo de energia. Amanhã esses serão problemas bem menores.

Ainda nesse quesito, o consumo de energia cairia, o que nos daria notebooks com baterias muito mais duradouras. Imagina poder sair de casa sem o carregador e com a certeza de que poderia passar o dia sem ficar na mão.

Há também a questão dos núcleos assimétricos. Hoje, em um processador Intel, todos os núcleos são iguais. Nos processadores ARM da Apple usados nos iDevices, há núcleos diferentes, alguns para performance e outros para eficiência energética.

Esse conceito aplicado a um notebook só traz vantagens: núcleos mais eficientes energeticamente podem gerir tarefas mais simples como transferências de arquivos, processos em segundo plano e até mesmo o sistema operacional.

Os núcleos de performance poderiam ser aproveitados nos programas, entregando assim mais performance para as tarefas sem comprometer o consumo e energia.

Levando em consideração que os chips da Apple podem ser escaláveis, (uma vantagem herdada da arquitetura ARM), com dois chips o computador em questão também tem duas GPUs. Imaginem as possibilidades.

Só tem vantagens no Apple Silicon?

Obviamente que não. Apesar dos ganhos, há pontos negativos que devemos observar.

O primeiro e talvez o principal é que Macs com processadores Intel já tem data de obsolescência definida. O Rosetta 2 funciona traduzindo código x86 para ARM, não o contrário.

Quando os desenvolvedores migrarem seus softwares para ARM, se não continuarem liberando versões para x86 alinhadas com a ARM, os donos desses aparelhos ficarão com versões desatualizadas.

Esse caso não é bem uma desvantagem do Apple Silicon, mas é uma fragmentação que ele traz para a plataforma, ou seja, o desenvolvedor tem que focar onde colocar os esforços, aumentando o custo de desenvolvimento de uma aplicação.

Se a parceria com a AMD se encerrar nessa migração, passaremos a ter todos os computadores da Maçã com GPUs integradas, compartilhando a RAM para vídeo também, ou seja, em uma máquina com 16 GB de RAM e 2 GB de VRAM, só teremos 14 GB livres para o usuário.

Também temos que observar que os processadores ARM são RISC (Reduced Instruction Set Computer), então os comandos passados para o processador tem que ser mais simples que os comandos CISC (Complex Instruction Set Computer).

Com comandos sendo mais simples, mais deles são necessários para executar uma mesma tarefa, o que acaba deixando os programas maiores.

Esses programas maiores ocupam mais espaço no armazenamento e mais espaço na RAM. O tamanho pode aumentar substancialmente de acordo com a complexidade do programa. Nesse caso, como a Apple ainda comercializa Macs com SSDs pequenos, podemos presenciar um problema no futuro.

Ferramentas de virtualização como o Parallels, o VMWare e o VirtualBox não rodarão nos Macs com Apple Silicon, nem mesmo no Rosetta 2. Essas ferramentas terão que ser migradas para ARM para continuar funcionando.

Talvez a maior desvantagem: o Windows

A maior perda na migração para o Apple Silicon? / Fonte: Microsoft

Esse aqui eu decidi colocar como um ponto separado. Não que o Windows tenha essa importância toda, mas hoje qualquer usuário de Mac sabe que ele é tão bom que dá até para rodar o sistema da Microsoft nele, caso precise (jogos, olhei para vocês!).

É nesse momento que todos os espertões comentam que “existe o Windows para ARM”. Sim, padawans, ele existe, mas para o ARM da Qualcomm, o Snapdragon. Quem disse que o ARM da Qualcomm é igual ao Apple Silicon?

O mais provável aqui é que o Windows ARM não rode nos processadores da Apple. E mesmo que rode, ele não é distribuído para usuários finais, apenas para OEMs.

A Microsoft pode mudar o licenciamento do Windows ARM? Sim, mas ainda há questões a tratar: o Windows ARM não roda aplicações X86 de 64 bits, por exemplo. A camada de tradução da MS, infelizmente, não é tão avançada como o Rosetta 2.

Instalar o Windows ARM no computador e ficar limitado a aplicações de 32 bits é viver no passado.

O mais provável é que ferramentas de virtualização sejam atualizadas para conseguir rodar em modo nativo e usar guests que são desenvolvidos para X86, com uma performance pífia. Espero estar errado.

O lucro é o foco da migração?

Sim, pequeno mancebo. Apesar de trazer vantagens e desvantagens e, na opinião do autor aqui, as vantagens superarem as desvantagens (não gosto do Windows mesmo) e os argumentos da Apple em favor do seu chip serem justos, o foco aqui é que está cada vez mais difícil justificar o valor premium de um Mac com a performance inferior de um processador Intel.

Então sim, quem mais ganha nessa migração é a Apple. Ela passa a controlar todos os aspectos das suas máquinas, não tem que esperar os roadmaps dos fornecedores (Intel e AMD) para lançar novos produtos, lucra mais porque ao produzir chips para computador e dispositivos móveis consegue negociar melhores preços… só tem vantagens para a Maçã.

Entretanto, essa concentração de poder nas mãos da Apple tira a liberdade do usuário quando, por exemplo, a máquina não tiver mais suporte de atualizações. Hoje uma máquina que não recebe atualizações do macOS pode rodar Windows ou Linux atualizados. No formato novo, será uma máquina eternamente desatualizada.

Afinal, devo comprar um Mac com Apple Silicon?

A verdade é que essa pergunta tem uma resposta não muito amigável. Se você deseja continuar usando o macOS como sistema operacional, você terá que comprar um Mac com Apple Silicon. Em poucos anos o Hackintosh deixará de existir (e a discussão em torno dele também), então ficaremos reféns do hardware Apple para usar o sistema dela.

Hoje eu não recomendaria a compra de uma máquina com processador Intel para ninguém, a não ser que essa máquina tenha retorno financeiro que seja, ao menos, algumas dezenas de vezes o seu valor.

Levando em consideração que na última migração (PowerPC para Intel) a Apple planejou executá-la em 2 anos e cumpriu a meta em apenas 10 meses, fica muito difícil gastar qualquer centavo em uma máquina que ficará obsoleta prematuramente.

Eu sempre fui um entusiasta e foi difícil adiar minha troca de notebook algumas vezes esperando essa migração e tudo o que ela pode trazer (principalmente deixar o carregador em casa) e vou acabar esperando mais um ou dois anos.

O Apple Silicon não é nada revolucionário, é no máximo uma evolução. Acredito que teremos novidades boas saindo dos laboratórios de Cupertino e que poderão agitar o mercado de hardware como há tempos não vemos, mas lembrem-se sempre: estamos falando de Apple, então tenham certeza, não será barato.

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