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O HoloLens foi uma ótima inspiração, mas, deverá ser o ARKit da Apple e o ARCore da Google quem vão ganhar os desenvolvedores na corrida pela Realidade Aumentada (RA) se a Microsoft não se mexer rapidamente.

Vamos relembrar: uma empresa de software baseado em Redmond (Microsoft) é um grande jogador no início de um novo mercado (smartphones) e, em seguida, encontra-se deslocada e deixada para trás mesmo depois que os concorrentes (Apple e Google com iOS e Android, respectivamente) chegarem atrasadas neste mercado, mas, com produtos similares e de uma maneira que capta o público mainstream (o povão).

Já vimos essa história e vivemos atualmente com os smartphones: A Microsoft tinha várias ofertas do Windows Mobile, construiu uma pequena e fiel base de usuários, mas, a companhia era muito lenta para reconhecer o avanço generalizado das interfaces de toque, seu CEO na época, Steve Ballmer, zombou do iPhone e não reconheceu o poder do Android a custo zero de licenciamento. A Microsoft, eventualmente, construiu um bom produto e até alcançou uma quota de mercado de dois dígitos na Europa, mas, posteriormente afundou e hoje praticamente desapareceu do mercado de smartphones, seguindo a nova estratégia do seu atual CEO, Satya Nadella.

Joe Belfiore, Alex Kipman e Terry Myerson

A revelação surpresa do Microsoft HoloLens em 2015 pegou o mundo desprevenido. Foi um avanço e algo genuinamente novo: um headset com vida própria que mistura gráficos 3D com o mundo real, o tipo de experiência de realidade aumentada que até então só tinha aparecido em filmes de ficção científica. Ao contrário da realidade virtual que completamente obstrui a sua visão, o HoloLens permite que você veja todo o mundo real à sua volta, ocultando apenas as partes que estavam escondidas atrás de objetos virtuais. Ele pegou partes do trabalho feito com o Kinect, contendo sistemas complexos para mapeamento e monitoramento de ambientes e objetos ao seu redor. Uma configuração completa, operação untethered sem precisar de quaisquer estações rádio-base ou marcadores de objeto. Com uma fusão do virtual e o real, o HoloLens foi completamente convincente e um sucesso entre os entusiastas e desenvolvedores, com a Microsoft desde o princípio, colocando no HoloLens um preço alto e para desenvolvedores/empresas, evitando o consumidor comum e o mesmo erro do Google Glass, que chegou ao mercado consumidor sem estratégia alguma e fracassou.

Agora fica a grande pergunta:

A Microsoft será capaz de transformar essa liderança e inovação com o HoloLens e a Mixed Reality em liderança e quota de mercado?

Baseado no que aprendeu com o HoloLens, a Microsoft desenvolveu a sua importante plataforma Windows Mixed Reality (Realidade Mista); A plataforma da Microsoft abrange uma ampla gama de dispositivos, desde headsets de realidade virtual, controles, sobreposição de dispositivos com o HoloLens e um sistema de câmeras 3D com inserção de objetos virtuais através das câmeras dos tablets. A plataforma da Microsoft inclui ainda os blocos básicos de construção necessários para a construção de ambas as aplicações de realidade virtual e aumentada: movimento e monitoramento de objetos, 3D motion input e gráficos 3D. Com a recente notícia de que títulos da SteamVR também serão executado na plataforma de realidade mista da Microsoft, a empresa parece, em alguns aspectos, estar bem posicionada para este novo mundo da realidade mista; e quer você goste ou não, será o padrão daqui pra frente, então, é bom ir se acostumando.

https://youtu.be/QK_fOFDHj0g

Há, no entanto, uma grande lacuna na linha de produtos da Microsoft e um grande ponto de interrogação sobre o seu potencial de captação de mercado. Primeiro, o ponto de interrogação:

O mundo quer usar headsets?

A plataforma da Microsoft está reduzindo o custo desses headsets — que devem começar custando cerca de $300 dólares, o que é um preço convidativo. A plataforma também está tornando os headsets muito mais simples — sem estações rádio-base para colar em paredes; apenas conecte o headset e use, porém, isso significa que você precisará de um PC para usar estes novos headsets.

Headsets VR de parceiros da Microsoft

A alternativa para quem não quer usar um headset é um sistema de câmeras AR — o tipo de coisa feita pelo Pokémon Go, onde os gráficos gerados por computador são sobrepostos em um feed de uma câmera que retornam para o mundo real, usando um telefone (ou tablet) como uma espécie de porta de visualização para um mundo virtual; todo mundo praticamente já viu como é ou jogou Pokémon Go alguma vez, sabe como funciona.

Headsets são superiores em todos os tipos de formas — são mais naturais para usar, deixam as mãos livres para manipular objetos no espaço 3D, controles, eles podem oferecer bônus, tais como: áudio posicional e acompanhamento da retina e eles são muito mais imersivos — mas, eles têm uma enorme desvantagem: você tem que comprar um headset. Já para sistema de câmeras AR, não precisa comprar nenhum acessório extra, pelo contrário, porque você já tem um smartphone ou um tablet que faz tudo pra você através da câmera.

ARKit da Apple e ARCore da Google, dão aos desenvolvedores as ferramentas que precisam para desenvolver software AR através da câmera, para telefones iOS e Android. Estas ferramentas fornecem aos desenvolvedores um mercado de bilhões de dispositivos sem exigir que o usuário compre qualquer hardware extra.

O problema para a Microsoft não é a tecnologia. O recurso de RA (Realidade Aumentada) em um smartphone é simples, basta usar a entrada da câmera para corrigir os erros acumulados da dupla integração de dados do acelerômetro e, portanto, oferecer os seis graus de liberdade de movimento sem a necessidade de referências fixas externas — é a mesma tecnologia que a Microsoft está usando para os seus headsets VR mais baratos. A Microsoft tem demostrado AR através da câmera, suporte a plataforma Windows Mixed Reality, e — enquanto inevitavelmente haverá diferenças entre o ARKit, ARCore e Windows Mixed Reality — todas as três plataformas terão capacidades muito semelhantes.

Simplesmente, o problema é que a Apple e o Google têm um alcance enorme em smartphones; e a Microsoft não tem. Isto representa uma gigantesca lacuna no alcance da plataforma Windows Mixed Reality. A Microsoft perdeu o ”boom dos smartphones” e isso pode ter custado muito caro para a empresa.

A posição da Microsoft neste mercado de AR e headsets VR é certamente mais forte, embora ainda complexa. VR não necessita de exigências mais rigorosas no desempenho, devido a preocupações de enjoo por conta da imersão, então, enquanto existem smartphones baseados em sistemas VR (como o Samsung Gear VR e o Google Daydream), eles estão um pouco mais restritos em termos do que podem fazer se comparado aos sistemas baseados em PC e headsets VR. Além disso, não é preciso comprar nenhum acessório para os smartphones.

Enquanto estes acessórios são mais baratos do que os headset VR completo (com a Samsung, em particular, oferecendo promoções regulares e dando o Gear VR de graça na compra de um telefone novo), eles ainda representam algum bloqueio para uma adoção mais ampla.

A necessidade de um acessório é algo para se colocar na balança entre o telefone e o PC; caso o consumidor queira um desempenho melhor, isto irá indiscutivelmente, favorecer os PCs. Como tal, não acreditamos que a Microsoft esteja completamente fora do mercado de realidade virtual no futuro, mas, o alcance da empresa neste espaço de realidade aumentada parece limitado.

Middleware

A Microsoft não está inteiramente sem opções, é claro. Construir um telefone nessa altura do campeonato e tentar concorrer com o iOS e o Android, deve ser improvável, mas, os rumores e matérias sobre o mítico Surface Mobile, o dispositivo definitivo, existem por toda a internet e devemos portanto, apenas aguardar um pronunciamento oficial da Microsoft.

Mas, há uma forma de tentativa e acerto em diminuir o valor das plataformas concorrentes: middleware. Ou seja, criar uma biblioteca de software que forneça serviços para aplicativos e esconda ou abstraia os detalhes da plataforma subjacente, ou seja:

O salvador da Microsoft tem nome e sobrenome: Microsoft Azure.

A Microsoft, como um fornecedor de plataforma, historicamente foi sempre hostil ao middleware; a empresa via as plataformas Java e a Web como ameaças que iriam minar o valor da plataforma Windows, agora, a empresa está oferecendo uma nova plataforma que permite que os desenvolvedores escrevam softwares que poderiam funcionar muito bem em Windows, Mac ou Unix. Mas, isso não impediu que a empresa desenvolvesse e até comprar o seu próprio middleware: .NET e Xamarim, por exemplo, ambos se encaixam nesta categoria. Expandir essas ofertas de AR middleware é algo que permite aos desenvolvedores abranger tanto o ARKit e o ARCore e podem trabalhar com Windows Mixed Reality também, dado o alcance do Windows 10, poderiam garantir que a Microsoft continue relevante neste novo espaço, mesmo apesar de suas fraquezas no mercado de telefonia.

Se você não entendeu bem o que é o middleware, vou tentar explicar de um jeito mais simples: Middleware é a mediação que uma plataforma faz entre outros softwares ou aplicativos, movendo dados, informações, ocultando as diferenças de protocolos de comunicação, plataformas e dependências de um determinado sistema operacional.

Em resumo, o Azure, rodando UWP, .NET, Xamarin, Docker, Stack, etc.. poderá fazer a mediação entre todos os apps, inclusive de AR, entre todas as plataformas, por isso o nome de UWP – Plataforma Universal do Windows; entenda, um app UWP (Universal) é um app que irá rodar tanto no iOS, Android e Windows, tudo via Azure, evitando assim, fazer um app para duas ou três plataformas separadas, o que aumentaria e muito todos os custos.

Nós não ficaremos surpresos se este for o caminho que a Microsoft irá seguir, em última análise, mas, fazer desta abordagem um sucesso exigiria da Microsoft fazer outra coisa que Satya Nadella ainda não conseguiu resolver dentro da Microsoft: agir rápido. É inevitável que este middleware de AR (Realidade Aumentada) será construído, com os desenvolvedores evitando ao máximo a reconstrução de seu software em ARKit e ARCore. Sabemos que grandes jogadores já têm planos de atuar neste espaço também, como o Facebook, prometendo construir algum tipo de middleware de AR.

Não temos bola de cristal e portanto, não podemos afirmar que o middleware da Microsoft será o middleware escolhido pelos desenvolvedores, então, a Microsoft é quem precisa trazer algo novo para o mercado, rapidamente, e principalmente ter a certeza de que ele oferece algo de bom e muito vantajoso para os desenvolvedores e empresas.

Se a Microsoft falhar, bem… é muito fácil voltar para 2007 e relembrar tudo o que aconteceu até hoje, pois a história deverá se repetir, com o HoloLens e o Windows Mixed Reality não conseguindo qualquer penetração de mercado mais duradoura.

O vídeo engraçado do ex-CEO da Microsoft, Steve Ballmer, deve agora ser visto com a maior seriedade do mundo, principalmente pela Microsoft:

Fonte: ArsTechnica